TERCEIRO DIA À BORDO: QUARTA_FEIRA, 13/4/94
Exatamente ás 5.50, passamos sob o Equador; acho que não verei mais o Cruzeiro do Sul; eu o procurava no céu todas as noites. Não acordei para ver a passagem; perdi a oportunidade de me batizar.Temos mais dois dias de navegação em alto mar até vislumbrarmos as montanhas de Cabo Verde;passaremos a cerca de 5 milhas da costa,única terra perto de nós nesta imensidão toda.
O sol está querendo aparecer; a ordem para encher a piscina já foi dada. Navegamos em um mar de almirante, com ventos brandos.
Levantei-me ás 9,30 e subi para a sala de comando,sem dúvida ,o lugar mais interessante do navio; ampla, clara, arejada com uma visão periférica de todo o oceano. José Ray, o oficial do dia, me pede para escrever uma carta, em inglês, pedindo autorização para a namorada dele embarcar, Por que não?O amor é lindo!
Desde cedo estamos em águas internacionais.
Nossa chegada á Las Palmas vai atrasar um bocada devida ás ordens recebidas;de novo diminuir a velocidade,desta vez porque há muitas embarcações no porto;o atraso evitará a demora nas operações de carga e descarga o que onera os custos;Armadores não gostam de perder dinheiro.
Quase não há o que se fazer no navio e se faz tanta coisa!Leio, escrevo,passeio, vou até o convés, ao parque dos containeres, vou até a popa, olhar a esteira de espumas; Na proa, sozinha naquela imensidão sem fim, nenhum barco por perto, só céu e mar... há um momento de comunhão com a natureza,a gente “fala com Deus! A harmonia,a tranqüilidade,a paz que vem de fora para dentro e que nos envolve,muda nossos conceitos e de repente se percebe a inutilidade das preocupações tolas,a brevidade da vida,a tolice que é a luta pelo ‘ter”,a corrida de ratos para ver quem chega primeiro,quem tem o carro mais caro ou quem é mais craque em passar a perna no outro e chegar ao topo;mas,ao topo de quê ? O mar me pergunta e eu não sei responder; por que sempre me preocupei com o ...ser.
Logo vem o chamado para o almoço; a eterna sopa de peixe, com aspecto de comida de hospital, mas, eu tomo sem reclamar; o aspecto não era convidativo, mas o sabor era bom. Turista tem estômago de avestruz, tem que comer de tudo e achar bom porque viajar é desarmar-se, esquecer comodidades em troca de conhecimento: ver, gravar, aprender, compreender, aceitar, Tomo a sopa, bebo o chazinho que já estou acostumada e chupo uma talhada de melancia; não sinto fome; Depois, um passeio á proa para “fazer o quilo” e jogar umas flores para Yemanjá. Na volta passamos pelo parque de containeres,vejo o mar de pertinho;dá até vontade de cantarolar ‘’’Sobre As Ondas”.
IMG 1:exercicios na sala de ginástica
IMG:2na sala de comando
IMG:3:o sucesso da salada de lagosta
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