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sábado, 5 de dezembro de 2009

DIÁRIO DE BORDO.CAPITULO / CAP:IV













TERCEIRO DIA À BORDO

O dia apareceu com céu encoberto; baixou a temperatura; o mar está plúmbeo; Lembrei que hoje é aniversario de Mara; gostaria de poder beijá-la pessoalmente, em vez de lhe enviar uma mensagem através das ondas magnéticas, pelo canal da imaginação; que ela e seu novo baby sejam felizes e que reine a paz e a alegria na sua vida, para que o meu bem amado Puppy possa ter um lar feliz..A saudade e a preocupação com os filhos,nos acompanha aonde vamos;mãe é serviço “full-time”não dá descanso.
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Soube que a tripulação deste e de outros navios, é contratada por uma empresa norueguesa, com

sede em Singapura. Parece que os interessados deixam seus currículos ou se apresentam e esperam a seleção ,que é rigorosa, Os armadores estão preferindo contratar tripulantes e oficiais filipinos, chineses ou malaios, por menores salários do que pagar aos europeus, com seus ganhos muito altos, alem de enfrentar sindicatos fortes. Imagina que se um capitão ficar um ano em terra tem que fazer todos os exames novamente. Atualizar-se. Em navegação tudo anda muito depressa e as mudanças tecnológicas são constantes.
Mas, para quem necessita deste emprego para melhorar de vida ou ama muito navegar,com certeza superará todos os obstáculos; ninguém recebe um sonho sem receber também as maneiras de realizá-lo. Esforços,obstáculos,sacrifícios?Afinal, quanto vale um sonho?
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...e então apareceram as primeiras gaivotas; ao contrario de mim ,já estavam bastante familiarizadas com o navio, entravam sem cerimônia, vasculhavam tudo, passeavam até pelas amadas plantas do Capitão, fuçando tudo em busca de migalhas. Chovera durante a noite,mas,elas,provavelmente um casal,acompanharam o ZIM,em vôo livre,como belos práticos alados.O sol vai se achegando,tímido,quer nos acompanhar á ilha;e o mar,tal qual uma mulher vaidosa,que a toda hora troca de roupa,volta a ser azul-cinza,exibindo para meus olhos de neófito,todo seu esplendor.
Num navio em alto mar,a gente volta ao estado fetal,quando o aconchego do ventre materno,nos dá aquela sensação de segurança,que raramente sentimos no mundo exterior.
“Ao ver o sereno bailado das gaivotas, volto ao passado e vejo o moço da gávea gritando “ Terra á vista”; marinheiros exaustos agradeciam ao céu, poder pisar de novo terra firme depois de tantos dias no mar.
No mundo de hoje quase não há mais “terra á vista” e sim á prazo, em suaves prestações mensais a juros de judeus; bons tempos de Cabral e Caminha, onde era só chegar e tomar posse.
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Sempre tem alguém na ponte de comando, mas, o telegrafista parece nunca sair de lá; está sempre compenetrado, debruçado no computador ,observando tudo. É o único da tripulação que me esnoba;quando muito recebo um seco ”morning”.
Filipinos adoram frituras,arroz,chá mate e conversar;são muito atenciosos,respeitadores e amistosos;todos se preocupam com meu bem-estar;aprendo com eles sobre os movimentos do navio,o funcionamento da casa de máquinas,aprendo que tara é o peso do container vazio e spark é como são chamados os telegrafistas em qualquer barco no mundo todo,
Já vejo Noronha, uma ilha de formação rochosa, envolta numa névoa cinzenta; agora são11`45, nosso relógio já adiantado em uma hora. Nenhum barco até onde a vista alcança;silencio total,nem poluição ou insetos;,José Ray,o oficial que está na ponte comigo, diz que daqui a um dia estaremos em águas internacionais,em três dias estaremos cerca de Cabo Verde e em mais ou menos dois dias passaremos a linha do Equador,onde serei devidamente batizada.Avisto pequenas velas brancas,na costa,Daqui parecem pontinhos no infinito.
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Hoje á noite sonhei comprando babadores para os netinhos que vão nascer; um dos babadores era azul-claro, bordado, o outro era branco bordado de rosa. Será que vem menina desta vez?
IMG:Cenas de bordo com tripulação
Vista dea Ilha de fernando de noronha

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