O Pensador,de Auguste Rodin
SAI HOMO SAPIENS ,ENTRAM OS CYBORGS
Um amigo recente conta na sua página que , ensinando os
netos a surfar perdeu os óculos .Bom,isso acontece
comigo a todo momento ;eles somem,nunca estão onde penso que os pus
e,invariavelmente estão no cocuruto da minha cabeça presos em minhas
madeixas.Daí lembro que em priscas eras a família adorava me ouvir recitar
"Os óculos da vovó" ,poema infantil que narrava as desventuras da boa senhora para
achar seus óculos.Bom,hoje sou eu a vovó e é de mim que os netos riem.
Na verdade estamos caminhando para a nova espécie humana que
são os cyborgs.Ninguém reparou ,mas,já somos quase biônicos.Aumentamos a visão
com óculos ,temos marca passos e órteses,inseridos
no corpo ,usamos braços e pernas mecânicas,trocamos
órgãos pelos transplantes ,alguns usam dentes postiços, seios siliconados,cabelos
com fios implantados e e já existem crianças nascidas de inseminação artificial.
Sem contar os telefones celulares e tablets. que aliviam nosso cérebro.Sim,temos
bancos de esperma,de medula e muito
mais.
Outro dia,desesperada com o sumiço de um gato muito estimado
alguém me recomendou por um chip nele para rastreá -lo e assim saber onde
andava o fujão.Agora,imagina se mulheres ciumentas implantassem chips nos seus
amados maridos.Por enquanto algumas se contentam em colocar chifres.A diferença na semântica é
pouca ,mas,a dor é a mesma.
Não está muito distante o tempo em que vamos nos dirigir a uma loja para trocarmos
nossos membros e órgãos envelhecidos. - Ah,esse coração está muito machucado,amei
muito,troca ele,troca...
-Eu usava viagra,mas,agora quero trocá-lo.Veja aquele
ali,maior e mais firme.Pronto,acabou a síndrome do menino -deus!
E,assim,de repente e não mais que de repente,entramos na
engenharia cyborg.
CONQUISTANDO O PLANETA
O LIVRO DO ANO
DEPOIS DE LÊ-LO VOCÊ NUNCA MAIS SERÁ O MESMO
homo sapieNS, DE YUVAL HARARI, É UM LIVRO PARA DESTRUIR SEUS
CONCEITOS SOBRE A HUMANIDADE
Publicado em 2015 no Brasil
pela L&PM, Sapiens – uma breve história da humanidade, do historiador israelense Yuval Noah
Harari, já está na sua 15ª edição em apenas um ano e é best-seller
internacional em diversos países ocidentais. O lançamento do novo livro do
autor, Homo Deus – uma breve história do amanhã, pela Companhia das Letras este ano,
ajudou a catapultar as vendas do primeiro livro, que ganhou uma edição luxuosa
com capa dura para o Natal. O sucesso do livro não é à toa, mesmo para quem não
tem preconceitos com best-sellers: em cerca de 450 páginas, Harari consegue
subverter todas as certezas que você tinha a respeito da humanidade.
Chegando ao fim da leitura, o
leitor de Sapiens fica
estupefato. Harari destrói (ou melhor, desconstrói)
tudo: religião, deus, seres humanos, natureza, civilização, capitalismo,
direitos humanos, tecnologia, futuro. Nenhum conceito fechado perdura da
análise sobre a história da humanidade. Mas, diferente da algazarra de opiniões
orientadas ideologicamente pelo nosso tempo, Harari praticamente não toma
partido. Ele não está preocupado em defender esta ideia ou desmistificar aquela
outra, nem apontar soluções para os problemas que elenca. Harari é um
observador científico e todos os seus argumentos são reforçados com dados
obtidos em pesquisas recentes de diversas áreas.
O livro inicia falando sobre
macacos. Traz dados antropológicos sobre a evolução dos primatas até chegar ao
gênero Homo.
Alguns dados interessantes nessa história são:
1) Há 6 milhões de anos viveu o último ancestral em comum entre
humanos e chimpanzés. A partir daí, um grupo evoluiu tal como os macacos que
conhecemos hoje nos zoológicos e outro grupo deu origem aos humanos.
2) Entre 2 milhões e 200 mil
anos atrás, diversas espécies de Homo se
espalharam pela África e Eurásia. Em determinadas épocas, houve seis espécies
diferentes convivendo entre si, entre eles o sapiens e
o neandertal. Isso é interessante porque mostra que nós não fomos os únicos
humanos a habitar a Terra. Antes de nós, outras espécies de seres humanos
surgiram, viveram durante milhões de anos e se extinguiram.
3) Isso desfaz a ideia (em geral pregada pelas religiões) de que o
ser humano de hoje é um ser único no planeta. Não é. Além do mais, nossa
história aqui é muito recente. Mesmo se nossa espécie chegar a existir por
milhões de anos (o que parece improvável, dado o colapso a que estamos
provocando a nós mesmos), estaremos fadados à extinção.
4) Já houve a era dos grandes répteis e estamos vivendo a era dos
mamíferos. Após a extinção dos seres humanos, talvez entremos numa era dos insetos,
dado o incrível poder de adaptação das baratas hoje, por exemplo.
5) O Homo sapiens – isto é, nós – existem há 200 mil
anos. Desde que a espécie surgiu, nosso cérebro é mais ou menos do mesmo
tamanho e nossa capacidade intelectual praticamente não se alterou. Durante
quase 130 mil anos, o sapiens era
um predador de menor escala, vivendo do resto de carniça que predadores mais
fortes deixavam. Um cérebro grande exige muito gasto de energia, que é
consumida dos músculos. Isto faz com que os seres humanos sejam fracos em
relação a grandes predadores, como tigres dentes-de-sabre e leões das cavernas.
6) Só há 70 mil anos atrás o
ser humano subiu ao topo da cadeia alimentar, durante a Revolução Cognitiva. A
partir dessa época, o sapiens conseguiu
usar seu grande cérebro para criar relações sociais promissoras, fazer com que
grandes grupos cooperassem em benefício de um bem comum. Por exemplo, formar um
paredão de caçadores e encurralar uma manada de mamutes num desfiladeiro. Sua
inteligência passou a ser a arma mais letal do planeta.
7) Essa revolução surgiu a
partir de um mecanismo simples e inesperado: a imaginação simbólica.
Conseguindo imaginar e comunicar conceitos abstratos, o sapiens passou a tornar suas relações
sociais mais complexas. Seus grunhidos e gestos não serviam mais apenas para
comunicar coisas objetivas, como um predador se aproximando. Elas poderiam
agora representar ideias como justiça, prestígio, hierarquia, etc. A partir
daí, ao invés de simplesmente louvar o espírito de animais que traziam as
caçadas, um sacerdote poderia inventar um deus para explicar um fenômeno da
natureza e convencer (ou chantagear) os demais a obedecê-lo. Assim, os grupos,
e até tribos inteiras, poderiam cooperar em nome de uma ficção comum.
“Em consequência, desde a Revolução Cognitiva o Homo sapiens tem sido capaz de revisar seu comportamento rapidamente de
acordo com necessidades em constante transformação. Isso abriu uma via expressa
de evolução cultural, contornando os engarrafamentos da evolução genética.
Acelerando por essa via expressa, o Homo sapiens logo ultrapassou todas as outras espécies humanas em
capacidade de cooperar.”
(p.41)
CONQUISTANDO O PLANETA
Depois de migrar da África para
o resto do mundo, por onde passava, o sapiens transformava
seu habitat. Ele acabou com a megafauna da América e da Austrália em questão de
alguns milênios.
Após a Revolução Agrícola, por
volta de 12 mil anos atrás (início das civilizações), o sapiens passou a trabalhar muito mais e a se
alimentar de forma mais precária. Enquanto um ser humano domesticado trabalhava
mais de dez horas por dia e se alimentava basicamente de trigo, um sapiensselvagem, durante um período climático
tranquilo, trabalhava não mais que três horas por dia caçando ou colhendo
alimentos na floresta. A cada dia ele caçava e colhia alimentos diferentes, o
que fazia com que sua dieta fosse variada e balanceada. O resto do tempo ele
passava descansando, divertindo-se e procriando. E, claro, fazendo guerras.
No Brasil, por exemplo, os índios pré-cabrais viviam de forma
muita próxima a isso. Diante da natureza abundante, a qualidade de vida de um
americano selvagem em períodos entre guerras era excelente. Relatos dos
primeiros portugueses que chegavam ao Brasil no século XVI indicavam que os
indígenas mais velhos chegavam a viver em torno de 120 anos. Ainda é possível
encontrar indígenas com quase 100 anos de idade em certas reservas. Enquanto
que, na Europa moderna da época, a expectativa de vida era de 40 anos (um
europeu levava vários meses para tomar banho ou trocar de roupa, enquanto os
indígenas banhavam-se todos os dias e não suportavam o cheiro dos primeiros
colonizadores).
Harari considera a Revolução Agrícola uma das maiores fraudes da
História. Embora tenha proporcionado ao ser humano uma evolução cultural que o
fez chegar às metrópoles e naves espaciais de hoje, custou a ele um estilo de
vida artificial que, em contraste com sua natureza biológica (lembrem-se: nosso
código genético é o mesmo há 200 mil anos) entra em um conflito doloroso, que
tem causado os mais diversos distúrbios psicológicos, depressão e má qualidade
de vida. Além disso, estamos condenando de forma cruel o meio ambiente e todas
as outras formas de vida. A civilização é só um ponto de vista, argumenta
Harari, que, de certo ângulo, parece maravilhosa, mas que por outro lado está
condenando a espécie.
“O estresse representado pela agricultura teve consequências
importantes. Foi a base dos sistemas políticos e sociais de grande escala.
Infelizmente, mesmo trabalhando duro, os camponeses quase nunca alcançaram a
segurança econômica futura que tanto ansiavam. Em toda a parte, brotaram
governantes e elites, vivendo do excedente dos camponeses e deixando-os com o
mínimo para a subsistência.” (p.110).
Harari desmancha até mesmo a ideia de que existem direitos humanos
intrínsecos:
“Os dois textos nos apresentam um dilema óbvio. Tanto o Código de
Hamurabi quanto a Declaração de Independência dos Estados Unidos afirmam
definir princípios universais e eternos de justiça, mas de acordo com os
norte-americanos todas as pessoas são iguais e conforme os babilônios as
pessoas são decididamente desiguais. Os norte-americanos diriam, é claro, que
eles estão certos e que Hamurabi está errado. Hamurabi, naturalmente,
retorquiria que ele está certo e que os norte-americanos estão errados. Na verdade,
ambos estão errados. Tanto Hamurabi quanto os pais fundadores dos Estados
Unidos imaginaram uma realidade governada por princípios universais e imutáveis
de justiça, como igualdade ou hierarquia. Mas o único lugar em que tais
princípios universais existem é na imaginação fértil dos sapiens e nos mitos que eles inventam e contam uns aos outros. Esses
princípios não têm nenhuma validade objetiva.” (p.116).
E também o conceito de liberdade:
“E quais são as características que evoluíram nos humanos? ‘Vida’,
certamente. Mas ‘liberdade’? Isso não existe na biologia. Assim como igualdade,
direitos e empresas de responsabilidade limitada, a liberdade é algo que as
pessoas inventaram e que só existe em nossa imaginação. De uma perspectiva
biológica, não faz sentido dizer que os humanos em sociedades democráticas são
livres, ao passo que os humanos em sociedades ditatoriais não o são. E quanto a
‘felicidade’? Até o momento as pesquisas biológicas foram incapazes de propor
uma definição clara de felicidade ou uma maneira de medi-la objetivamente. A
maioria dos estudos biológicos reconhece apenas a existência de prazer, que é
mais facilmente definido e medido. Portanto, ‘a vida, a liberdade e a procura
da felicidade’ deveria ser traduzido como ‘a vida e a procura do prazer’.”(p.118).
Ele não pretende desfazer nem
invalidar códigos morais como religiões, ideologias ou crenças humanistas,
apenas mostrar que são criações e convenções, e não leis da natureza. No
entanto, como convenções, essas crenças são importantes, pois fazem parte de
uma “ordem imaginada” que nos mantém controlados como sociedade. Foi justamente
esta atitude que permitiu ao Homo sapiens evoluir.
“Os defensores da igualdade e
dos direitos humanos talvez fiquem escandalizados com essa linha de raciocínio.
Sua reação provavelmente será: ‘Nós sabemos que as pessoas não são iguais
biologicamente! Mas se acreditarmos que somos todos iguais em essência, isso
nos permitirá criar uma sociedade estável e próspera’. Eu não tenho nenhum
argumento contra isso. É exatamente o que quero dizer com ‘ordem imaginada’.
Acreditamos em uma ordem em particular não porque seja objetivamente
verdadeira, mas porque acreditar nela nos permite cooperar de maneira eficaz e
construir uma sociedade melhor. Ordens imaginadas não são conspirações malignas
ou miragens inúteis. Ao contrário, são a única forma pela qual grandes números
de seres humanos podem cooperar efetivamente.” (p.118)
Há uma porção de outros temas
tratamos por Harari que poderíamos discutir aqui durante dias e dias. Muitas
dessas questões (por exemplo, o rumo com que o homem está dando à tecnologia)
são discutidos no livro seguinte do autor, Homo Deus.
O melhor é você ler. Ninguém passará ileso pela leitura Sapiens. E é bom que assim seja.
*Extraído do blog "o Grifo"
Sapiens: uma breve história da
humanidade
Yuval Noah Hahari
L&PM, 2015
459 p.
Yuval Noah Hahari
L&PM, 2015
459 p.
Classificação: ✰✰✰✰✰
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