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terça-feira, 26 de julho de 2011

SALVE AS VOVÓS!



                        A  CASA DAVOVÓ




 A casa da vovó deve ter um jardim com rosas e margaridas; deve ficar num bairro tranquilo,onde os micos pulem fazendo alarido nas árvores e as crianças possam correr livremente pelo quintal,com seus cachorros como companhia. 
A casa da vovó deve ter varanda;uma varanda comprida,com redes coloridas e cadeira de balanço.Numa delas,vovó conta estórias que mexem com a imaginação das crianças,Chapeuzinho Vermelho,Cinderela,Branca de Neve,Ali Babá. 
A casa da vovó deve ser cheia de sonhos.Um lugar onde o lobo mau não penetra,mas,a gente sabe que existe e aprende a se defender.Aprende, também ,que a inteligência sempre vencerá a força bruta e o Amor,um dia,vencerá o ódio. 
O cheiro do amor é penetrante por toda a casa, bem como o aroma do chocolate quente.Já imaginaram uma casa de vovó sem chocolate quente?E biscoitos de polvilho? 
O colo da vovó é amplo e  aconchegante.Um colo sem pressa.O riso da vovó é franco,sua paciência infinita,seu amor,inesgotável. 
Sempre tem um lanchinho descontraído na casa da vovó; na da minha,havia.Pão com leite moça,suco de maracujá,regado a estórias deslumbrantes que eu ouvia,bebendo as palavras e com olhos postos nela,sem piscar,torcendo pela princesa e ansiando pelo castigo merecido do vilão.Ainda torço,até hoje. 
Mas,as vovós desapareceram ou estão diferentes,.Não contam mais estórias e os vilões parece que se multiplicaram. 
Será porque as vovós não estão mais presentes,infundindo a todos nós o senso de justiça,o amor ao belo,a ojeriza aos mau-feitos?Tenho pena que as  vovós,de xale de crochê e cabelos cor de neve estejam praticamente extintas.


Hoje,Dia de Sra. Santana é o Dia da Vovó!Mas,para mim,todo dia é o dia dela,onde junto com o chocolate quente e o bolo de carimã,eu bebi um pouco da sabedoria da vida. 




MENSAGEM PARA VOCÊ!





VIVER COM SABEDORIA!
A SABEDORIA ESTÁ NO EQUILÍBRIO!


As vantagens e desvantagens se equilibram de tal modo que se pode alcançar a perfeição média nem bem nem mal demais.E,assim,se agora se navega contra a corrente,em compensação o vento sopra do Norte ,como faz quase sempre e empurra a vela ajudando-a,de sorte que o impulso e o obstáculo  se completam num progredir moderado.
Quando,porém, se vai a favor da corrente,a coisa é fácil porque a gente pode deixar-se arrastar;apenas nestes casos os movimentos podem tornar-se facilmente irregulares,a nau se põe de través e a gente se vê forçado a empreender um trabalho fatigante de remo e de leme para que essa navegação se acabe em completa desordem.
Desse modo as vantagens da vida são sempre contrabalançadas por desvantagens e estas compensadas por  aquelas,sendo que,no fim, o resultado é zero,nada.
Na realidade, porém, o resultado é a sabedoria do equilíbrio  da perfeição média,perante a qual não deve ter nem júbilo nem maldição,mas,contentamento,apenas.
A perfeição não consiste na acumulação unilateral de vantagens, porque,por outro lado a vida se tornaria impossível,pois,todas as desvantagens consistem no equilíbrio da vantagem e da desvantagem culminando no nada que se chama,afinal,contentamento.
Thomas Mann,escritor alemão

quinta-feira, 14 de julho de 2011

AS "MENINAS SUPER - PODEROSAS"



No princípio era o caos!
As mulheres, oprimidas por uma sociedade machista, ficavam  velhas aos cinquenta anos.
Se enviuvavam,  tivessem a idade que tivessem,cobriam -se de preto dos pés à cabeça e seu único adorno era o rosário.
Houve avanços, mas, as cobranças continuavam.Porém,mulher é um bicho danado de esperto e as mais moderninhas decidiram não ficar velhas,mas,ficar louras,eu,entre elas.
Herdeira de uma genética que embranquecia nossos cabelos aos trinta anos, passei a me valer das tinturas e dos cabeleleiros para  esconder os brancos inoportunos.Até que um dia...
Até que um dia cansei. Soltei o meu modesto “Independência   ou Morte”! E os brancos reinaram gloriosos para desespero das minhas contemporâneas temerosas das comparações e dos cálculos matemáticos.
Daí passei a descobrir parceiras; mulheres poderosas, inteligentes,seguras de si,detentoras de poder político e social,atrizes,ministras,sociólogas,todas ostentando belos e curtos cabelos prateados e muito felizes com sua aparência.Como eu!
Não gosto de mentiras e enganações e pintar os cabelos me parece um jeito vergonhoso  de se mentir a si própria.A vida é um ciclo e a maturidade, a velhice faz parte deste ciclo.Convém nos acostumarmos e nos prepararmos para o dia que elas chegarem;isso significa aproveitar bem a juventude,derrubar preconceitos,exercer com tranquilidade sua sexualidade ,construir uma carreira,criar filhos que por sua vez criarão filhos,ter a inaudita satisfação de beijar os netos.Resumindo,estar de bem consigo e aceitar-se.
Acabar com a ditadura dos vinte dias foi um alívio para mim e para meu bolso. De vinte em vinte ir ao salão,submeter-me à tintura,torcer para não ficar parecendo uma moeda falsa,teimando em esconder,o branco teimando em se multiplicar e -pior- meu cabelo antes tão sedoso estava começando a ficar muito parecido com pelos pubianos.
Passeando pelos shoppings,reduto da classe média,ouvia as críticas e opiniões mais disparatadas.
-Eu pintaria se fosse você!
Outras diziam:
-Queria ter coragem de deixar o meu assim. O seu está lindo,com um brilho de prata,um corte perfeito!
Bom, disso não abro mão.Um bom corte significa tudo.Minha intenção não era a de parecer uma idosa conformada.O corte deveria passar a imagem de uma mulher que aceitava a sua nova condição,mas,uma mulher arrojada,moderna,ainda gostando de homens e galanteios.Nessa ordem!
Para manter o brilho prateado uso o xampu da L’Oreal de Paris para cabelos brancos;é um pouco caro ,mas,vale a pena.E sai mais barato que a tintura num salão de classe.
O certo é que para ostentar o branco 
é necessário coragem;o grisalho passa para o mundo de manuais e regras pouco complexas, a idéia da menopausa,a mulher perdeu sua função de despertar desejos e procriar,está “out”.
Muitos associam o branco como  preguiça ou desleixo;de fato,um branco amarelado,sem brilho,com um ar de sujo,mal cortado dá essa impressão.Por isso ,a importância dos cuidados.
Claro que sou tratada de senhora -e gosto disto!
Agora, detesto ser chamada de “tia”; esse tratamento mexe com os meus mais baixos instintos,tanto que,um dia,aporrinhada por um guardador de carros que me assediava pedindo dinheiro-“tia,me dê um trocado!”-em vez do trocado dei-lhe uma lição de vida.
Falei prá ele:-
Eu tenho dois irmãos,uma é puta e o outro é viado,você é filho de qual deles?
O cara sumiu!
Texto de Miriam Sales
Irreverente,como sempre...
PALAVRA DO LEITOR:

Olá, Miriam!

Unha aperta, e miña noraboa pola entrada, tan inxeniosa, irreverente e có tan elegante humor!

Saúdiños, Miriam!
14 de julho de 2011 07:22
 Susi de la Torre,artista plástica,Madri; p/ e-mail


Miriam, as mulheres (e os homens) continuam ficando velhas ao 50 anos, só que umas velhinhas charmosas como você.
Araken
Em 14 de julho de 2011 09:06,p/ e-mail



terça-feira, 5 de julho de 2011

UMA CRÔNICA DE ARAKEN VAZ GALVÃO


                                       Soteropolitano


Baiano de nascimento e coração – até um pouco fanático, ainda que fanatismo seja perigoso, mas no bom sentido ou como força de expressão, imagino que, tudo bem – sempre tive curiosidade em saber por que aqueles nascidos na cidade do Salvador são chamados de soteropolitanos, mas, inexplicavelmente, um preguiça macunaímica – se me permitem o canhestro neologismo – impediam-mo.
Talvez a preguiça tivesse seu epicentro no diabinho que todos temos (acho!) no inconsciente, que estava sempre a dizer-me: Não tens nada com isso. Nasceste em Jequié. És, pois, jequieense. Mas eu sabia que essa era uma informação errada ou equívoca. Nascera, em 1936, no município de Jequié, era verdade. Como também era verdade que aquele meu nascimento dera-se no então distrito de Aiquara, mais precisamente na fazenda Santa Maria, que ficava situada próxima ao povoado de Pulga do Campo. Se toda essa complicação para se saber onde um cidadão brasileiro/baiano nascera fosse pouco, Aiquara emancipara-se durante a ditadura, época em que criava-se municípios – exclusivamente para dar mando a apadrinhados – cujo destino era viver de uma única arrecadação: aquela que vinha de um fundo federal criado para sustentar municípios que não se sustentavam. No caso, nas próprias pernas.
Ao dizer isso, não estou denegrindo Aiquara, lugar onde estive anos depois de ter saído de lá, e constatei que continuava praticamente a mesmo de quando eu tinha dez, doze anos. Não mudara nada. Pacata, população escassa de boa gente trabalhadora. O mais era marasmo e silêncio, em suas ruas planas, muitas sem calçamento, ou seja, iguais a quando em era criança.  
Na época daquela visita, já sabia o significado da palavra Aiquara: Vinha do tupi – como sói ocorrer com muitos logradouros brasileiros – AI, que significava preguiça(1), o animal; QUARA, significava buraco, morada, o refúgio da preguiça. Macunaíma poderia ter nascido lá.
Quanto a Jequié(2), que eu também já sabia o significado, cuja forma correta seria Tikí-é, significava “o covo(3) de forma diversa, podia ser ainda uma palavra da língua dos Camacãs (que não eram tupis), Yaquié, para exprimir onça, cachorro”, isto na concepção de Sampaio. Já Falcão afirmava que a palavra se formou pela junção de Jequi (covo) mais (arrastar), significando “covo de arrasto” (armadilha de arrasto?) ou “rio do covo”. Podendo ser ainda, como segunda opção, “covo diferente, que não é como os demais”.
Tudo isso é dito em uma tentativa de explicar minha resistência em averiguar o significado de soteropolitano, uma vez que era oficialmente jequieense, embora a fazenda onde nascera ficasse no distrito de Aiquara, próxima ao povoado de Pulga do Campo, o me fazia um cidadão pulgacampense (ou algo similar), mais precisamente nascido em um município que não existia em 1936. O pior de tudo era que também o minúsculo povoado de Pulga do Campo tampouco existia. Já estava pensando que era um cidadão fantasma – temendo que a terrível, e temível, (com os mais pobres) Receita Federal, descobrisse essa situação e visse nela dolosas intenções minhas.




Estava vivendo esse crucial dilema, quando, participando de uma reunião da Secção Baiana da União Brasileira dos Escritores (UBE/BA), quando conheci a brilhante escritora patrícia, Miriam de Sales. Uma mulher muito simpática, que fala pelos cotovelos, porém, não cansa porque fala bem e sabe o que fala e do que fala. Ouvia-a, hipnotizado, como de resto toda a plateia, quando ela disse que sabia o significado de soteropolitano.
Na ocasião, ainda extasiado com a magia da fala de Miriam, senti inibição em perguntar o significado. Justifiquei, em pensamento, que não o sabia por pura preguiça (afinal estava relacionado com aquele tipo de animal e de sua casa), porque soteropolitano só podia vir do grego ou do latim – disse-me.
Voltei para Valença, onde moro, magnetizado com o feitiço de Miriam e com o bendito soteropolitano na cabeça. O tempo passou e ontem (29/6/2011, dia de São Pedro e das Viúvas, como realçava a Miriam em seu livro “A Bahia de Outrora”), tomei coragem e perguntei-lhe diretamente. E ela, que é adepta do uso constante da Internet, passou-me algo que chamo gancho (mas ela chama link: http://abahiadeoutrora.blogspot.com/2010/07/ficha-tecnica-do-livro.html), onde pude ler o que se segue: “Nós baianos somos xingados de soteropolitanos como dizia o irreverente Jorge Amado. E, muitos baianos desconhecem porque somos chamados assim. Graças à bibliotecária Genilda, da ABL,Academia Baiana de Letras, estudiosa das coisas da Bahia, descobrimos. Soteropolitano(4) vem de SOTERO: Salvador; POLI: Cidade; TANO: Natural. Entendeu? Natural da cidade do Salvador, com muito orgulho.
“Como nós, baianos, somos ‘diferentes’ e reverenciamos a cultura clássica, nosso gentílico tinha que vir do grego, pois Soterópolis é Cidade do Salvador, nesta língua.
“Soterópolis era uma cidade grega, erigida em honra de Sotero, imperador, cuja palavra, em grego, significa Salvador.”

© Araken Vaz Galvão







(1) Preguiça aqui nada tem a ver com os indolentes e ociosos, trata-se, pois, segundo o Aurélio “Designação comum aos mamíferos desdentados, bradipodídeos, arborícolas, de pelagem muito densa e longa, membros muito desenvolvidos e cauda rudimentar, assim chamados pela notável lentidão de seus movimentos.
(2) SAMPAIO, Theodoro. O Tupi na Geografia Nacional, Col. Brasiliana, Vol. 380, Companhia Editora Nacional/Minc-INL, São Paulo, S.P, 1987, pág. 265. FALCÃO. Márlio Fábio Pelosi, – Pequeno Dicionário Toponímico da Bahia, Gráfica Santa Helena, Salvador, BA, 2001, pág. 357.
(3) Covo é o mesmo que “Armadilha de pesca formada por esteiras armadas em paus e munidas de sapatas de chumbo. Pode ser também côncavo, fundo”. Acredito que os índios usassem, em vez de chumbo, uma pedra para fazer peso.
(4) O Aurélio dá, mais ou menos, a mesma explicação da amiga de Miriam “De Soterópolis, do grego sotérion, o mesmo que salvação, a que foi juntado -polis, o mesmo que cidade”. Segundo esse autor, é a “helenização do nome da cidade de Salvador” (indicando que vê, com razão, nesse neologismo muito pedantismo). E nos manda ver “salvadorense”. Neste verbete encontramos “De, ou pertencente ou relativo a Salvador, capital da BA”. Como segunda opção “O natural ou habitante de Salvador”.


Araken Vaz Galvão ,o bom baiano, por ele mesmo: