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UM POEMA DE JOSÉ LUIS BORGES

                     O MAGO JOSÉ LUIS BORGES









A UM GATO

No son más silenciosos los espejos
Ni más furtiva el alba aventurera;
Eres, bajo la luna, esa pantera
Que nos es dado divisar de lejos.
Por obra indescifrable de un decreto
Divino, te buscamos vanamente;
Más remoto que el Ganges y el poniente,
Tuya es la soledad, tuyo el secreto.
Tu lomo condesciende a la morosa
Caricia de mi mano.
Has admitido,
Desde esa eternidad que ya es olvido,
El amor de la mano recelosa.
En otro tiempo estás.
Eres el dueño
De un ámbito cerrado como un sueño.
José Luis Borges




TRADUÇÃO LIVRE DE MIRIAM SALES
Não são mais silenciosos os espelhos
Nem mais furtiva a alba aventureira;
És,sob a lua,esta pantera
Que nos é dado divisar de longe.
Por obra indecifrável de um decreto
divino,te buscamos, vaidosamente;
Mais remoto que o Ganges e o poente,
Tua  é a solidão,teu o segredo.
Teu lombo condescende a morosa
Carícia de minha mão receosa.
Tens admitido,
Desde esta eternidade  que já es esquecido,
 O amor da mão zelosa.
Em outro tempo estás.
És o dono
De um espaço   fechado como num sonho.


Foto:Meus gatos




UM POEMA DE  MÁRIO QUINTANA




O LAÇO E O ABRAÇO
Mário Quintana


Meu Deus! Como é engraçado!

Eu nunca tinha reparado como é curioso um laço...
 uma fita dando voltas.
Enrosca-se,mas não se embola, vira, revira, circula e pronto:
 está dado o laço.

 É assim que é o abraço: coração com coração,
 tudo isso cercado de braço.
 É
assim que é o laço:
 um abraço no presente, no cabelo, no vestido,
 em qualquer coisa onde o faço.
E quando puxo uma ponta, o que é que acontece?
 Vai escorregando... devagarzinho, desmancha, desfaz o abraço.
Solta o presente, o cabelo, fica solto no vestido.
E, na fita, que curioso, não faltou nem um pedaço.

Ah! Então, é assim o amor, a amizade.

Tudo que é sentimento.
 Como um pedaço de fita.
Enrosca,segura um pouquinho,
mas pode se desfazer a qualquer hora,
 deixando
livre as duas bandas do laço.
 Por isso é que se diz: laço afetivo, laço
de amizade
. E quando alguém briga, então se diz: romperam-se os laços.
E saem as duas partes, igual meus pedaços de fita,
 sem perder nenhum pedaço.
Então o amor e a amizade são isso...
Não prendem, não escravizam, não apertam, não sufocam.
Porque quando vira nó, já deixou de ser um laço!












DOCE CONVÍVIO


É bom viver consigo mesmo

Sozinho

No ninho

Com pequenos prazeres, a esmo.

Sorrir para o pássaro que voa

A flor

Pura cor
 
E o canto do bem-te-vi que entoa.

Nada é mais doce, n Ou mais terno que o sonho

De sorrir pra si mesmo

Com amor.em risonho
















                   AVAREZA (DO LATIM AVARITIA)

“A quem dá liberalmente, ainda se lhe acrescenta mais e
mais; ao que retém mais do que é justo, ser-lhe-á em
pura perda”. – Provérbios 11, 24”
Clodoaldo Ferreira da Silva era conhecido como
“Cadeado”, devido a sua mão constantemente fechada.
Ao passar por um conhecido, já que não tinha
amigos, o cumprimentava com um leve aceno de cabeça, só para nãoter que abrir a mão. E, como se sabe, avareza é um dos pecados capitais.
O avarento não aceita ser assim denominado. Costuma dizer
que é apenas econômico.
Berenice, sua mulher, sempre foi um tipo de chamar a atenção.
Se quando jovem era uma bela flor em botão, ao desabrochar tornou-se um fruto proibido. Já Clodoaldo nunca passou de um tipo comum. Desses que ninguém nota quando chega e muito menos quando se vai.  Dizem as más línguas, que ele a conquistou com umbelo arranjo de rosas brancas, rosas essas que usurpou de uma sepultura
no dia dos mortos. A ganância do avarento não tem limites.
Nunca presenteou a mulher com objetos de uso pessoal. Costumava no Natal ou no aniversário de Berenice lhe presentear com utensílios para casa, utensílios estes que poderiam também beneficiá-lo do tipo: uma cafeteira, uma panela de pressão, um colchão de molas,etc. A pobre mulher nunca reclamou. Para disfarçar sua possível
decepção, costumava dizer que o importante não era o valor do presente, e sim a lembrança. Os vizinhos não se conformavam com aquela união e viviam a comentar:
– No início tudo são flores e a paixão é cega – afirmava Bartô.
– Sim, a paixão pode ser cega, mas esse tipo de cegueira não
dura vinte anos... – rebateu Juvêncio.
– Existe algo no ar além dos aviões de carreira – filosofou Betinho.
– Só vejo uma explicação – aparteou Juvêncio.
– Qual? – perguntou Bartô.
– Vai ver que o homem é bom de cama. Existe mulher que paraela o bom sexo é tudo.
Florinda, a bela e jovem mulata que servia  no balcão, ao ouvir a conversa não se segurou :
– Desculpem eu me meter na conversa, mas sabem que eu também pensei que Cadeado fosse um garanhão?
– E não é? – Perguntou admirado Bartô.
– Ou ele não é chegado ou comprou Viagra no Paraguai...
Pra quê Florinda foi se meter na conversa. Todos queriam saberdos detalhes. Mas a bela mulata, pedaço de mau caminho, deu um basta no assunto:
– Os detalhes eu prefiro que fiquem entre quatro paredes. Afinal,eu fiz parte da história...
– É, “para  a nossa avareza,
o muito é pouco; para a nossa
necessidade, o pouco é muito” –
citou Betinho, o mais instruído, a
célebre frase de Sêneca, o filósofo.
A maior diferença entre o
econômico e o avarento é que
quem sabe fazer economia consegue,
em muitos casos, ficar bem de vida. Já o avarento, talvez até por castigo, não consegue. Cadeado era um exemplo vivo. Estava sempre num “miserê” de dar pena. E olha que ele vivia a sonhar com a sorte grande. Jogava no Bicho sempre que lhe sobrava uns tostões. Certa
ocasião se deu ao luxo de comprar um bilhete inteiro de loteria. Gasto na compra do bilhete o dinheiro que teria que pagar nas comprasda semana. Ao chegar da rua, falou para a mulher:
– Recebi um aviso de meu anjo de guarda. Sonhei com um milhar e comprei um bilhete inteiro. Nossa vida vai mudar minha Berê.
Guarde esse bilhete no nosso oratório, sob os pés da Santa Edwige.
Ao invés de se alegrar, Berenice ficou preocupada. Mesmo sabendo que passariam aperto na semana seguinte, disfarçou o aborrecimento para não contrariar o marido. Porém, por ser uma mulher de fé e considerar Edwige sua santa protetora, fez o que Cadeado pediu.
O tempo passou e certa manhã de domingo, enquanto Cadeado  dormia a sono solto, ela saiu bem cedo de casa para comprar jornal,pão e leite e nunca mais voltou.
 O milhar deu na cabeça.



                             ÂNGELO ROMERO
Ângelo Romero nasceu no Rio de Janeiro em
05/07/36 e mora a 20 anos em Petrópolis, RJ. É
ator, autor, diretor e professor de teatro. Como
escritor já escreveu 33 peças e publicou 12 livros:
6 romances, 4 de poesia, 1 de literatura infanto-
-juvenil e 1 de Curso de Teatro. Escreve crônica
para o principal jornal da Cidade e é membro titular das Academias:

Brasileira de Poesia e Petropolitana de Letras.

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