J .D. Salinger ,autor do famoso livro “O Apanhador no Campo de Centeio”,dizia que um autor só
poderia considerar ter escrito um bom livro ,se o leitor,assim que terminasse
a leitura,ou no meio dela,cedesse ao impulso de ligar para o escritor.
Salinger era um recluso que adorava e cultuava a solidão.Tenho minhas
dúvidas que atendesse ao telefonema.
Mas,sobre o impulso,concordo plenamente.
Eu mesma,já tive muitas vezes esse desejo.
Alguns livros,cujos temas me indignavam tanto,como as injustiças,por
exemplo,ou os crimes contra inocentes ,ou os ensinamentos que me passavam –
posso citar “Capitães de Areia”,de Jorge Amado,”Nada de Novo no Front “,de
Erich Maria Remarke,”Cem Anos de Solidão”,de Gabriel Garcia Marques – os que me
lembro,no momento,me impeliam ao desejo de falar com o autor e lhe dizer da
minha emoção ao ler seus escritos.
Como não podia fazê-lo,escrevia minha opinião no próprio
livro,conversando surrealmente com o autor.
Pois não é que anteontem, assim que deixei o
computador,cerca de meio –dia,o telefone tocou.Atendi e do outro lado da linha
a pessoa que me procurava,identificou-se como um leitor que estava na cidade de
Cruz das Almas,interior da Bahia,e me presenteou com essas lindas palavras:
-Estava lendo o seu livro “A Bahia de Outrora” ,aquele
capítulo sobre a guerra da Independência e fiquei com os olhos cheios de
lágrimas,emocionado com seu relato.
Falamos quase meia hora sobre literatura, autores e livros.
Ao terminar, não creio que esse leitor, engenheiro
agrônomo e apaixonado por livros,tenha
se dado conta da alegria e emoção que me proporcionou.Pois,o compromisso do
autor é com o leitor,apenas com ele.É dele,sempre,a última palavra.
Recebo muitos e-mails elogiosos sobre meu trabalho
impresso ou na Internet.Mas,o tal telefonema a que se referia Salinger,esse foi
a primeira vez.Espontâneo,verdadeiro,sentido.
Coisas assim fazem com que o autor queira seguir adiante.
Poema à boca fechada
Não direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
José SaramagoNão direi:
Que o silêncio me sufoca e amordaça.
Calado estou, calado ficarei,
Pois que a língua que falo é de outra raça.
Palavras consumidas se acumulam,
Se represam, cisterna de águas mortas,
Ácidas mágoas em limos transformadas,
Vaza de fundo em que há raízes tortas.
Não direi:
Que nem sequer o esforço de as dizer merecem,
Palavras que não digam quanto sei
Neste retiro em que me não conhecem.
Nem só lodos se arrastam, nem só lamas,
Nem só animais bóiam, mortos, medos,
Túrgidos frutos em cachos se entrelaçam
No negro poço de onde sobem dedos.
Só direi,
Crispadamente recolhido e mudo,
Que quem se cala quando me calei
Não poderá morrer sem dizer tudo.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirAh, Miriam...discordo do título. Isso é uma GRANDE alegria!
ResponderExcluirParabéns! Você merece o reconhecimento.
Obs: Nem pense em me colocar naquele artigo dos puxa-sacos. kkkk
Bjs.
Deus me livre!Então eu vou brigar com meu anjo da guarda,o melhor revisor do Brasil?
ResponderExcluirNossa Senhora de Fátima q/ me proteja.
rsss bjks
Oi, Miriam! Eu acho que a grande vantagem dos escritores modernos é esta possibilidade de interagir com o leitor em tempo real, coisa impensável há trinta, quarenta anos atrás. E é (nas palávras do Ignácio de loyola, que faço aqui, minhas), a melhor paga que um escritor pode ter pelo seu trabalho. O leitor é tudo depois da obra publicada. Costumo brigar com membros de minha família que dizem ler todos os dias os meus textos e digo: então por que não faz pelo menos um comentário? rsrs. Isso é muito gratificante e concordo coma pessoa que me antecedeu, não é uma pequena alegria, é uma grande, grandessíssima. Abração. Paz e bem.
ResponderExcluirÉ extasiante, Mirian! São grandes alegrias.Tive, também, grande alegria ao ler você recomendando o meu blog. Isto é maravilhoso partindo de uma escritora do seu quilate. Obrigado, queridA! aBRAÇOS.
ResponderExcluirNossa briga é parecida;cobro dos meus ,tb.O Ignácio,outro querido amigo,fala q/ essa é mesmo a melhor paga do esc ritor.
ResponderExcluirEu concordo.
odo meu pensamento qdo estou blogando vai p/ meus leitores.E,só mando um" chamado" qdo imagino q/ vão gostar e s interessar pela leitura.
A gente fica conhecendo os gostos dos "nossos",n/ é?rsss bjs
Tunin,eu sou como o personagem Ofélia,aquela da TV.Só recomendo o q/ gosto.Pena q/ o espaço seja pequeno e n/ gosto de enchê-lo com propagandas q/ soam falso.Acho assim,melhor.Cada postagem recomendo um blog.Comecei c/ o seu. bjks
ResponderExcluirVocê é uma escritora maravilhosa, amiga!
ResponderExcluirMereces esse reconhecimento!
Beijocas!
Amiga!
ResponderExcluirVoltei para elogiar as informações que postaste na lateral. Muito úteis!!!
Beijos, querida!
Soninha é muito bom tê-la aqui. bjs
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