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quarta-feira, 21 de abril de 2010

ROMANCEIRO DA INCONFIDENCIA



O BÊBADO DESCRENTE


Vi o penitente
de corda ao pescoço,
a morte era o menos:
mais era o alvoroço.
Se morrer é triste,
porque tanta gente
vinha pela rua
com cara de contente?


(Ai.Deus.homens.reis,rainhas...
Eu vi a forca – e voltei.
Os paus vermelhos que tinha!)
Batiam os sinos,
rufavam tambores,
havia uniformes
cavalos com flores...


- Se era um criminoso,
porque tantos brados,
veludos e sedas,
por todos os lados?

(Quando me respondereis?)
Parecia um santo,
de mãos amarradas,
no meio de cruzes,
bandeiras e espadas.
-Se aquela sentença
já se conhecia,
por que retardaram
a sua agonia?


(Não soube.Ninguém sabia.)
Traziam-lhe cestas
de doce e de vinho
para ganhar forças
naquele caminho.
-Se era condenado
e iam dar-lhe morte,
porque ainda queriam
que morresse forte?


(Ninguém sabia.Não sei.)


Não era uma festa,
não era um enterro ,
não era verdade
e não era erro.
-Então porque se ouvem
salmo e ladainha,
se tudo é vontade
da nossa Rainha?

(Deus,homens,rainhas,reis...
Que grande desgraça a minha!
-Nunca vos entenderei!)


Para homenagear Tiradentes,proto-mártir da Independencia,para quem não sabe (ou não se lembra) enforcado pela Côrte Portuguesa neste dia 21 de abril de 1879 em Minas Gerais,quando foi descoberta e abortada a Inconfidencia Mineira,excertos do !Romanceiro da Inconfidencia! da poetisa Cecília Meireles.

"Toda vez que um justo grita

um carrasco o faz calar.

Quem não presta,fica vivo.

Quem é bom,mandam matar.

Tiradentes,Cecília, o mundo não mudou.Continua o mesmo!

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