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domingo, 14 de março de 2010

A CRUZ DA ESTRADA




Tu que passas, descobre-te.


Ali dorme

O forte que morreu.


Alexandre Herculano


Invídeo quia quiescunt.

Lutero



Caminheiro que passas pela estrada,


Seguindo pelo rumo do sertão,


Quando vires a cruz abandonada,


Deixa-a em paz a dormir na solidão.




Que vale o ramo de alecrim cheiroso


Que lhe atiras nos braços ao passar?


Vais espantar o bando buliçoso


Das borboletas, que lá vão pousar.






É de um escravo humilde sepultura,


Foi-lhe a vida o velar de insónia atroz;


Deixa-o dormir no leito de verdura


Que o Senhor, dentre as relvas, lhe compôs.






Não precisa de ti. O gaturamo


Geme por ele à tarde no sertão;


E a juriti, do taquaral no ramo,


Povoa, soluçando, a solidão.






Entre os braços da Cruz a parasita,


Num abraço de flores, se prendeu;


Chora orvalhos a grama, que palpita,


Lhe acende o vaga lume o facho seu.






Quando à noite o silêncio habita as matas,


A sepultura fala a sós com Deus...


Prende-se a voz na boca das cascatas


E as asas de ouro aos astros lá nos céus.






Caminheiro! do escravo desgraçado


O sono agora mesmo começou!


Não lhe toques no leito de noivado,


Há pouco a liberdade o desposou.
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