DIÁRIO DE BORDO:CAP.XII

SAGRADA FAMILIA

Estamos nos aproximando da Costa da Catalunha; deveremos chegar a Barcelona ás 16hs.
O ZIM vai quase parado, na velocidade econômica recomendada pelos chefões. Corta o mar da Catalunha com o andar de um velho reumático.Este mar tão distante e tão famoso se parece com o mar de Barra Grande,Ilha de Itaparica,na cor e na calma neste amanhecer do dia 22.No céu azul,de sol frio ,as nuvens formam mapas geográficos,ilhas,cabos,continentes e montanhas.

O equilíbrio do Universo penetra nas nossas almas em comunhão com a natureza porque,enfim,Deus é todo natureza e toda natureza é Deus;isto até as religiões aparecerem e confundirem tudo.
O céu, o mar, o vento obedecem a um Relógio superior que a todos regula democraticamente e é aqui, no meio do oceano, que mais se sente a presença divina; busquei e não O encontrei nas mais ricas e famosas Catedrais que conheci por onde andei; e olhe ,que meus pés já venceram muitas estradas; não O encontrei nas ruas movimentadas onde as pessoas correm apressadas atrás de seus sonhos com suas pequenas necessidades a resolver; não O vejo no rosto aflito daquele mendigo nem no riso do milionário, talvez porque no mundo dos homens o desequilíbrio energético é muito pesado e Deus se esconde decepcionado. Acho mesmo que enquanto não houver uma sintropia no universo humano o bicho homem não encontrará a paz.
Quem joga para ganhar objetivando a queda do outro está provocando um desequilíbrio energético prejudicial a todos; é um ato entrópico. Todos têm o direito e o dever de buscar a prosperidade porque não estamos falando só de riqueza financeira;é também ter saúde,alegria,amigos.O dinheiro não resolve nada sozinho;os mais ricos que conheci são ás vezes os mais infelizes;é preciso ter saúde para se desfrutar do que se ganhou e a saúde é mais uma questão de cabeça;a felicidade está na paz interior,na consciência tranqüila,na plenitude do ser.Para viver, a gente precisa de uma motivação.

Eu trocaria qualquer bem material para preservar o meu entusiasmo(do grego estar bem com Deus),nem beleza,nem riqueza,nem status; a carinha e o corpinho não são nenhuma “Brastemp” mas têm me servido bem;com estas pernas que não são divinas como as de La Dietrich tenho corrido muito chão visto e aprendido muita coisa.
Toda maquiada, arrumada com um conjuntinho de flanela verde-em frente a Barcelona e sem poder vê-la-. Muitos navios esperando atracação,porto lotado;muitos ao largo,afinal chegamos ao maior porto do Mediterrâneo.Atracaremos durante a madrugada.O movimento nos céus também é grande,aviões passam a toda hora em direção ao aeroporto,taxiando para descer.Esta cidade ,o coração econômico da Espanha,tem uma energia,uma força,uma pujança que vem de longe,tão antiga e tão atual.Espio para ela do deck e a vejoesplendorosa,iluminada,poderosa.

Apaixono-me.Voltarei muitas vezes para lá.
Como sairemos para Gênova ás 14hs,t erei um dia inteiro para passear.
Todos estão eufóricos no navio hoje; foram para casa alguns tripulantes, entre eles o 2 º oficial e o chief engenheiro; a tripulação substituta já embarcou; o novo engenheiro que chegou parece um guerreiro mongol com uma cara de bola e o cabelo negro e liso cortado em cuia como o dos índios; o substituto do 2º é bem jovem e simpático; claro que vou sentir falta do outro, o mais comunicativo da tripulação, e das nossas longas prosas trilingues no deck; entendíamos-nos (ou forcejávamos para isto) em Português, Inglês e Espanhol ,quase inventamos o Esperanto. O 1º oficial adoeceu, baixou hospital, não sei se viajará conosco; o médico veio á bordo, explicou tudo ao Capitão .

Era muita coisa para um dia só: atraso no desembarque e conseqüente atraso na chegada a Gênova, doença do Imediato e troca de tripulação; mas, o Cap. como bom oriental não perde a fibra; estoicamente, acompanha tudo, tudo vê, mas,não reclama,resolve; e ainda arranja tempo para piadas e para me oferecer uns horríveis “chips” filipinos que insiste que eu prove e eu invocando os mártires cristãos em Roma, comi corajosamente. Tomara que amanhã “las
brujas” de Espanha se acalmem e a gente possa,enfim,visitar Barcelona.
Sobra muito pouco tempo para ver tanta coisa, mas, a gente volta. Eles sugeriram que eu fosse pra terra com a lancha que veio buscar o 1º mas eu recusei;a lancha cobra U.S.100 por uma viagenzinha de menos de 10 milhas.Fundiamos ao largo numa distancia como da meia travessa á Ilha de Itaparica,hora prevista da atracação,três da matina.
O agente de navegação de Barcelona, alto e dono de profundos olhos azuis, assim que se certificou que eu não sou a esposa do Cap. começou a lançar-me “unas miradas” bem calientes; minha amiga corre para me informar que ele é solteiro; como diria meu amigo o 2º-U lá lá!

GOSTOU?VIAJE COMIGO,DE NAVIO,PELA EUROPA MEDITERRÂNEA