Catedral de Barcelona
Torre de Colserolla
30/4 Em navegação
Estou em lua de mel com meu CD stereo cassete e rádio comprado em Barcelona e que o Orlando me entregou hoje; foram os U.S130 mais bem empregados da minha vida; estou ouvindo a Rádio Barcelona. Comprei também uma câmera Minolta e uns perfumes para vender.Quando o dia amanheceu pensei que nada ia dar certo em Barcelona.Com pouco dinheiro,estava desanimada;René e Francis iam sair para tirar fotos para documentos e eu pretendia ficar nas Ramblas e depois visitar a Sagrada Família.O agente daqui nos deixou perto da Ciutat Vieja;fomos ver a majestosa Catedral,grande como nunca havia visto outra igual.Portais,altares,frontispícios,imagens,teto,seu silencio mil vezes secular,seu cheiro incomparável -o odor dos séculos-seu claustro,a sacristia - tudo mexia comigo profundamente que só uma palavra expressa bem:Reverencia.A música de câmara me transportava para um passado distante e misterioso,um “quê de deja vu”;já estive aqui?Quando? Em que circunstancias?Senti-me pequeninha, minúscula, esmagada por uma força secular. Uma palavra expressa bem o que senti:REVERENCIA.Compramos velas que acendemos para nossas protetoras;fiz minhas orações,não tinha o que pedir,só o que agradecer.Eu,Miriam Sales,uma brasileirinha de classe média ,sem amigos poderosos nem parentes importantes,sem grandes merecimentos para com Deus,sem dinheiro para gastar-aqui- em plena Catedral ,
comovida pelos seus cantos sacros,pisando neste solo onde tantos passaram antes de mim,desfilando suas tristezas e alegrias,protegida por estas paredes vetustas onde tantos vieram pedir proteção,esmagada pelo peso dos séculos,compartilhando a energia de várias gerações que aqui passaram elevando suas preces ao Infinito;aqui há uma capela só para preces;proibido fotos,filmadoras e similares,um lugar feito para oração e recolhimento.A Cidade Velha é indescritível;parece que voltei no tempo e estou na Espanha do sec.XV.Tenho a impressão de ver Colombo contrito,entregue aos seus pensamentos,seu olhar de visionário enxergando o que ninguém mais vê;ou D. Juan Tenório,bem pouco religioso,escondido nas esquinas a devorar com os olhos as belas “chicas” nos portais.Senhoras elegantes e compenetradas levavam seus cachorros a passear;um ou dois mendigos,bem velhinhos,com vestes pobres,mas,decentes cerzidas,porém muito limpas,esperavam com a mão estendida que alguma alma compassiva fizesse deslizar uma moedinha nos potinhos aos seus pés;senhoras idosas com um ar compungido seguiam para a Missa carregando seus missais;turistas abobados,como eu,esmagados diante de tanta beleza,passavam boquiabertos enquanto suas kodaks trabalhavam freneticamente.
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