Seguidores

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

POR CONTA DO FOLCLORE



TIVE a sorte de conviver com pessoas interessantes que tinham muito a transmitir e com quem aprendi um bocado.

Eu vivia “in google”,ou seja,de olhos arregalados para o conhecimento,bebendo as palavras,interessada em tudo entender e tudo saber.

Entre essas minhas “fontes”,estava a folclorista Hildegardes Vianna,muito amiga de minha mãe,autora de vários livros de folclore,pesquisadora do assunto,além de escrever sobre usos e costumes da Bahia antiga ,com competência e categoria.

Era uma pessoa engraçadíssima,sempre bem humorada,com um formidável jeito para a mímica ,levando-nos ás lágrimas de tanto rir.Apesar de seu talento e seus trabalhos serem reconhecidos até em Portugal,onde fez várias conferencias nas Universidades,era de uma simplicidade encantadora,a qualidade daqueles que sabem e sabem que sabem,por isso,não precisam aparecer nem hostilizar ninguém.

É dela,essa estória:

Como pesquisadora,saía por aí,aonde o Judas perdeu as botas,atrás de boas estórias perdidas por esse mundão,acompanhada por um velho gravador e uma Kodak,para registrar e gravar os fatos;se tinha um ponto de macumba recém descoberto em Cachoeira,interior da Bahia,ou uma cantiga de roda ,em Maragogipe,ou um versinho do tempo do Imperador,lá estava ela,com seu precário equipamento,tomando nota de tudo,tudo registrando,apesar de já ser uma senhora de certa idade.

Alguém na Academia de Letras,da qual era membro,disse a ela,que,no interior do Recôncavo,numa comunidade de negros descendentes de escravos,uma velha negra de 110 anos,conhecia e cantava uma canção do tempo do Imperio;era o Viru Du.A localidade nem nome tinha,perdida nos grotões,lá vivia pouca gente em casas de taipa,quase escondidas da civilização.

Quando chegou,no meio da manhã,com outro folclorista,foi logo ouvir a velha,numa impaciência só;tiraram as fotos,ligaram o gravador e esperaram.

A filha,falou,quase gritando no ouvido da velha:

-Mãe,os moço da cidade vinheram ouvi a sinhora cantá o Virudu.

A velha se acomodou melhor na cadeira e cantou:

Uviran do piranga as Marge pracida...

O famoso Virudu era o Hino nacional!

Voltaram cabisbaixos,morrendo de rir,mas,vida de pesquisador é assim,umas em cheia,outras em vão.

2 comentários:

  1. Ossos do ofício. A raiva depois que passa se tranforma em um ótimo causo, como foi esse. Abração, amiga! Paz e bem.

    ResponderExcluir