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quarta-feira, 29 de setembro de 2010

PARA HOMENAGEAR O "DIA DO IDOSO"




A BOA IDADE!


Li,numa revista semanal,que as pessoas como eu,que já passaram a barreira dos sessenta e gozam de boa saúde,estão com o nível de felicidade igual ao dos -hoje quase lendários-20 anos.Concordo plenamente.

Se a gente se aceita,se olha para o passado e vê uma vida bem vivida,se considera pequenos aborrecimentos como acidentes de percurso,consegue,sim,atingir a felicidade:isto,se a pomos onde nós estamos,como diria o velho poeta.

Aos honestos 67 anos e já "fora do prazo de validade",acordar debaixo do meu teto,ao lado do meu companheiro de tantos anos,levantar com minhas próprias pernas,sem artrites nem artroses,receber o carinho do meu cachorro,ir á praia,nadar e fazer exercícios, livre da ditadura das academias,degustar um bom café da manhã -ah!isto é a gloria!-

Levo em conta que não pedi prá nascer,não escolhi o lugar aonde este fato aconteceu,não me perguntaram que sexo queria ter,enfim,nada foi decidido por mim,nem com o meu consentimento e tão pouco vão me perguntar o dia que quero partir,nem como ,quando ou onde,reflito,que o melhor,mesmo é encarar este mundo como uma viagem de turismo,ás vezes,divertida,ás vezes,chata-mas, fazer o quê?-se a gente já pagou a passagem e tem que cumprir a temporada até o fim?

O desgaste do tempo leva algumas mulheres á depressão e isto é triste.Não vou dizer que aprovo essa estória de "melhor idade",velhinha prá frente" e outras baboseiras,porém,gente,a alternativa é pior,pois é a morte.

Também,não quero enganar a mim mesma achando que o tempo não passou;passou,sim,e as rugas no meu rosto formam a geografia da minha vida,das coisas que participei e presenciei;não desejo esconde-las,apesar de tentar atenuá-las com cremes e poções,que sei,de mágicas não têm nada.

Eu fiz um trato com o tempo:ele não me persegue e eu não fujo dele.

Tenho meus pequenos macetes;evito ir a médicos freqüentemente - futucando eles acham- feito o check-up anual não ponho os pés em consultório;tenho uma alimentação saudável;passeio,adoro praia,assisto bons filmes,vou a museus(o risco é que um dia não me deixem sair de lá),viajo,vejo gente,leio muito,escrevo e já publiquei quatro livros,não para ganhar o Nobel,mas,para minha satisfação pessoal e para marcar minha passagem por este mundo;não quero ser a mulher mais rica do cemitério;quero viver a vida e legar aos meus seis filhos,treze netos e uma bisneta as coisas que acredito e as experiências que tive.

Quando alguém morre é como se toda uma biblioteca desaparecesse,pois esta experiência que se foi estará perdida e jamais será recuperada.

Alegria é o segredo da juventude eterna.

Ao receber a visita da "indesejada das gentes",não deveremos levar saudades e sim deixar saudades.O que se leva da vida é a vida que a gente leva.



segunda-feira, 27 de setembro de 2010

O CARURU



Ontem foi dia dos Santos Gêmeos, dia de comer caruru.


O quiabo é uma planta africana chamada calulu, daí o nome do famoso prato. Desde cedo, as donas de casa alvoroçadas, cortando os quiabos, (depois de bem lavados e enxutos numa toalha limpa, para secar a baba.) triturando as castanhas, amendoins, cebolas, gengibre, camarões secos, tudo para fazer a comida ao gosto dos ibejis. depois de triturado no pilão, junta-se o quiabo cortadinho bem miúdo e põe-se um pouco do azeite; não se coloca água; quiabos, temperos e azeite postos nas panelas, mexe-se constantemente para não pegar e vai-se acrescentando o dendê, quando necessário. Não esquecer o sal.

Pronto o caruru, arruma-se a mesa, com a separação ritual: o caruru dos meninos, seguindo todos os preceitos; o dos grandes, á vontade. caruru, vatapá, efó, arroz de hauçá, cana cortadinha, farofa de azeite, abará, acarajé, pipoca branca, feijão fradinho, banana frita, cocada puxa, o banquete do santo. a bebida de Cosme é o aluá de abacaxi, feito com a infusão das folhas da fruta, depois de bem lavadas e macerando de um dia para o outro.

então é só degustar essas maravilhas, mas, primeiro que tudo se deve alimentar os meninos: coloca-se uma porção de cada iguaria numa "quartinha” de barro e agradece os benefcios recebidos e/ou pedem-se outros. Deixa-se a comida por três dias, depois recolhe-se a quartinha e joga-se num matinho verde.

Pode-se oferecer a comida dos santos todos os meses do ano, exceto novembro, mes dos eguns.

A mesa dos meninos é um caso á parte, como ensinou Maria de S. Pedro, quituteira de primeira, dona do restaurante que tinha o seu nome, no Mercado Modelo. Dizia D. Maria: Todos os pratos da festa devem estar sob uma pequena mesa: caruru, pipocas, amendoim, farofa de azeite, cana cortadinha, banana frita, arroz branco, abará, abóboras, acarajé, milho branco, coco cortado em pequenos pedaços, galhinha de molho pardo e ovo cozido. Enchia-se uma bacia grande que se punha no chão bastante limpo e forrado. Chamava-se os sete meninos mais jovens; as crianças, entre sete e oito anos abaixavam-se em volta da bacia; As crianças mais velhas e os adultos batiam palmas ritmadas; D. Maria chamava -Vem cá, vem cá, Dois - Dois. Os pequeninos, simbolicamente, mantinham as mãozinhas por cerca de um minuto sobre o caruru, começando, a seguir, todos juntos a jantar. Todos cantam com alegria e entusiasmo, mantendo o ritmo das palmas: - Eu te dou de comê, Dois - Dois! Eu te dou de bebê, Dois - Dois; os versos são cantados sete vezes, depois, passa-se para outros:

S. Cosme mandou fazer

Uma camisinha azul.

No dia da festa dele

S. Cosme quer caruru.

Vadeia Cosme, vadeia

Vadeia, Cosme, na areia!

Vadeia, Cosme, vadeia,

Vadeia, Cosme, na areia!

Eu tenho pai

Que me dá de comê.

Eu tenho mãe

Que me dá de bebê.

Comido o alimento santo,

Os meninos esperam o sinal para levantar as mãos. Aí começa a festa dos grandes; Voltam às palmas e os cantos: Louvado seja, ó meu Deus

Que Cosme e Damião comeu.

Repete-se três vezes esses versinhos. Depois, os sete meninos e a dona da casa carregam a bacia para dentro da casa.



sexta-feira, 24 de setembro de 2010

A PRIMAVERA




Primavera gentil dos meus amores,

- Arca cerúlea de ilusões etéreas,

Chova-te o Céu cintilações sidéreas

E a terra chova no teu seio flores!



Esplende, Primavera, os teus fulgores,

Na auréola azul, dos dias teus risonhos,

Tu que sorveste o fel das minhas dores

E me trouxeste o néctar dos teus sonhos!



Cedo virá, porém, o triste outono,

Os dias voltarão a ser tristonhos

E tu hás de dormir o eterno sono,



Num sepulcro de rosas e de flores,

Arca sagrada de cerúleos sonhos,

Primavera gentil dos meus amores!



Augusto dos Anjos - poeta brasileiro

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

ALMOÇO EM AGOSTO(Pranzo di Ferragosto)





Esse adorável filme estará na TV a cabo no início de outubro.Quem puder,não perca.

Um “bello” cinqüentão, Gianni,mora com a mãe viúva,num apartamento.em Roma.

Toda a sua vida é dedicada aos cuidados com a velha senhora,implicante e preguiçosa.

Tudo na casa é feito pelo filho,que há muito desistiu de ter sua própria vida;seus rápidos relacionamentos foram por água abaixo,e,nós,os que viram o filme,achamos que o dedo tortinho da “mamma”,entrou nessa estória.

Cheio de ocupações domésticas,o sempre disposto Gianni,não precisava de dívidas,mas,estava atolado nelas.

Sem tempo para trabalhar,devia ao armazém,ao senhorio,ao médico...

Sua única alegria era o vinho,que tomava sem moderação.

Aproximava-se o feriado de 15 de agosto,o Ferragosto,o insuportável calor de Roma,que esvaziava a cidade,todos saíam,menos ele.

E foi aí que recebeu a proposta:o senhorio,que queria dar um passeio,lhe pediu para tomar conta da mãe dele,durante o feriado.

Por conta disso,perdoava-lhe metade das dívidas.

Então foi a vez do médico:-fica com minha mãe,só no feriado!...

E Gianni se viu como babá,cuidando de quatro velhinhas,adoráveis umas,terríveis outras,mas,que,mudaram a sua vida e o convívio entre si,mudou a vida de todas.

Adorável comédia,que divertiu os espectadores,enquanto mostrava as carências da velhice e um lado de Roma que não freqüenta os guias turísticos.

A direção e o roteiro são de Gianni di Gregorio,que também interpreta Gianni.

Vale a pena assistir.

Convite

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

ARTE BRASILEIRA:ALFREDO VOLPI

Alfredo Volpi nasceu em Lucca, Itália, a 14 de abril de 1896. Em 1897, a família Volpi emigra para São Paulo e se estabelece na região do Ipiranga, com um pequeno comércio. Destino comum aos filhos de imigrantes italianos, Volpi inicia-se em trabalhos artesanais e, em 1911, torna-se pintor decorador. Talvez daí decorra o gosto pelo trabalho contínuo e gradual da sua linguagem estética, próprio da valorização de um “saber fazer”.






Até os anos 30, Volpi elabora sua técnica e, principalmente, a partir da década de 1930, emerge um trabalho mais consciente, utilizando-se das cores para a construção de um equilíbrio muito próprio. Por esses tempos, Volpi aproxima-se de artistas como Fúlvio Pennachi e Francisco Rebolo Gonsales, integrando o Grupo Santa Helena. A denominação do grupo, e a inserção de Volpi nele, é oriunda mais de uma proximidade física dos pintores (que pintavam em uma sala do Edifício Santa Helena) e da sua origem comum do que de uma identificação estética. Volpi destoava do grupo especialmente por não ser um pintor conservador.


Em 1938, Volpi conhece o pintor italiano Ernesto de Fiori. O encontro seria muito frutífero para ambos, e se deu numa época muito oportuna para Volpi, que enveredava para um caminho de maior liberdade estética.


Um acontecimento fundamental para a evolução de Volpi foi a sua “estada” em Itanhaém, entre 1939 e 1941. Sua esposa teve problemas de saúde e mudou-se para o litoral, a fim de se tratar. O artista a acompanhou, retornando a São Paulo apenas nos finais de semana, em que procurava vender suas obras. A gravidade da doença de Judite Volpi envolveu o artista em questionamentos que o fizeram rever sua obra e suas concepções, liberando um potencial criativo latente, ao qual Volpi finalmente conseguiria dar vazão. A tensão própria de situações-limite possibilitou para Volpi uma liberdade gestual que imprimiria uma nova dinâmica à sua obra. A série de marinhas que Volpi pinta a partir dessa época evidenciam uma obra muito própria que se desenvolveria gradualmente até atingir um ápice abstrato em que as composições eram compreendidas em termos de cores, linhas e formas.





Cabe ressaltar que Volpi recusava teorizações estéreis, mas estava sempre muito bem informado das correntes artísticas do seu tempo, embora não se filiasse explicitamente a nenhuma delas, já que sua trajetória era extremamente pessoal. Esse é um dos pontos que fazem dele um grande pintor: Volpi é moderno e atual sem se importar com rótulos artificiais. A diferença é que ele não precisava ser moderno ou popular; simplesmente era.















































sexta-feira, 17 de setembro de 2010

A CIDADE LUZ

A CIDADE LUZ


“Sous le ciel de Paris s’évole une chanson...”

Quem diria que essa charmosa menina tem mais de quatrocentos anos! Ela existe desde que as legiões romanas invadiram a Gália, antigo nome da França, mas, era, apenas, uma das muitas aldeias habitadas pelos gauleses e parísios.A população reunia-se na “Cité”,cujo nome antigo era Lutécia.

Os parísios lutaram bravamente contra as legiões de Júlio César, mas sem chance.

Os romanos melhoraram muito Paris (nome tirado dos antigos habitantes vencidos); construíram pontes, monumentos, teatros e circos.

No séc.V Paris foi ameaçada por Átila, o “Flagelo de Deus” como era chamado,porém, a bela menina e seu bravo povo, repeliram os bárbaros invasores.

Tempos depois chegaram os francos atraídos pela beleza e grandiosidade de Paris, mas, esses já eram civilizados e logo se enturmaram.

O rei franco, Clóvis, fundou a Abadia de Santa Genoveva , mas,os francos, seus sucessores não residiram lá o que atraiu os normandos no sec.IX.

Com a nova dinastia dos Capetos Paris começou a ter feição de cidade sendo sede da administração municipal;começa ai o seu período áureo; Felipe Augusto iniciou a construção do Louvre e terminou Notre Dame. Luis XI constrói a Sorbonne enquanto Carlos V ergueu a Bastilha.

Mas, as cidades também têm seus dias de má- sorte,como as pessoas.Em 1814 Paris foi vencida pelos bolonheses aliados dos ingleses que, desde muito, brigavam com a França.

Os Henriques V e VI passaram a morar em Paris.

Somente 18 anos mais tarde Paris voltou a ser francesa.

Apesar de muito bela e muito nobre Paris vivia num permanente estado de inquietações e guerras.

A Revolução Francesa com seu banho de sangue aconteceu lá.

Conheceu as guerras napoleônicas e foi ocupada pelo exército alemão, nas duas guerras mundiais.

Os alemães mantêm uma relação de amor e ódio com os franceses desde priscas eras.

Paris é, por direito e justiça, a capital espiritual da civilização latina.

Uma das cidades mais populosas do mundo, destino turístico desejado por todos. Sob o céu de Paris é impossível ser infeliz., é o que se diz.

Importante centro comercial e industrial, , porém, seu forte são os pequenos ateliers de artigos de vestuário, luxo, jóias e perfumarias. Paris é cocotte e coquette. Paris é mulher!

Sob o ponto de vista intelectual Paris é também muito importante.

Lá está a Academia Francesa, a Sorbonne, a Biblioteca Nacional, o Louvre.

Um dos mais belos passeios de Paris é visitar a Praça da Concórdia, onde se pode vislumbrar o Jardim das Tulherias com suas árvores e estátuas, os Inválidos, onde se acha o túmulo de Napoleão, a Torre Eiffel, magnífica, o Champs Elisées , o Arco do Triunfo,adornado de altos e baixos relevos representando as vitórias de Napoleão.

Lá também foi erguida a guilhotina, de execrável memória,onde perdeu a vida a rainha Maria Antonieta, o próprio Guilhotin, que inventou a máquina mortal e provou do próprio veneno e até Lavoisier, criador da Química moderna.

No centro da praça ergue-se o obelisco de Lúxor doado a Luis Felipe pelo paxá do Egito.É um monumento de 23 m de altura que celebra os feitos de Ramsés,II, o magnífico faraó.

Maravilhoso e próprio de Paris são os seus bulevares, com cafés elegantes e confeitarias contrárias a qualquer regime.Cadeiras nas calçadas de onde, sentado, você vê passar o mundo.

São eles Montmatre, Madeleine, Capuchinhos ,dos Italianos,onde a animação é intensa.

Paris é uma festa! Palavra de Hemingway, que a reverenciava com um grande amor.

Fico por aqui, mas, prometo voltar. Para falar do Louvre, da Ópera, de Notre Dame, de Versalhes.

Essa cidade dá asas à nossa imaginação,dá voltas à nossa cabeça,povoa o nosso imaginário...

Esse espaço é muito pouco para conter a cidade dos nossos sonhos.





quarta-feira, 15 de setembro de 2010

PRAGA



...e o povocontinua miserável!


Dedicado aos políticos brasileiros:

Saia da história
prá entrar na vida.
Entre na lida
sem prever retorno.
Daqui apouco
abandone a vida
e vá arder
no mais gelado forno.
Assim calcine
tudo que é ferida.
Esqueça enfim
a dívida e o dolo.
Saia do campo
no fim da partida.
(Perdida a hora
de virar o jogo.)
Daqui se vê
a sórdida avenida
e palácios estúpidos em torno.
A força do poder
jaz reunido,
pensando um jeito
de estrepar o povo.
Deixa o plenário
vá plantar batatas
prá ajudar
quem pena desvalido.
Cansamos de pagar
quem nos explora,
quem parlamenta
em nome de bandido.
O que merece
quem desta forma
trai o mandato
e o pais afunda?
É muito pouco
um ôvo na cabeça,
um chute na canela
e um pé na bunda.
Reynaldo Jardim,um brasileiro.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

EU SEI,MAS,NÃO DEVIA...



Eu sei, mas não devia


Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamento de fundos

e a não ter outra vista que não seja as janelas ao redor.



E porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora.

E porque não olha para fora logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas.

E porque não abre as cortinas logo se acostuma acender mais cedo a luz.

E a medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.



A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora.

A tomar café correndo porque está atrasado.

A ler jornal no ônibus porque não pode perder tempo da viagem.

A comer sanduíche porque não dá pra almoçar.

A sair do trabalho porque já é noite.

A cochilar no ônibus porque está cansado.

A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.



A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra.

E aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja número para os mortos.

E aceitando os números aceita não acreditar nas negociações de paz,

aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.



A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir.

A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta.

A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita.

A lutar para ganhar o dinheiro com que pagar.



E a ganhar menos do que precisa.

E a fazer filas para pagar.

E a pagar mais do que as coisas valem.

E a saber que cada vez pagará mais.

E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas que se cobra.



A gente se acostuma a andar na rua e a ver cartazes.

A abrir as revistas e a ver anúncios.

A ligar a televisão e a ver comerciais.

A ir ao cinema e engolir publicidade.

A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição.



As salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro.

A luz artificial de ligeiro tremor.

Ao choque que os olhos levam na luz natural.

Às bactérias da água potável.

A contaminação da água do mar.

A lenta morte dos rios.



Se acostuma a não ouvir o passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães,

a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais para não sofrer.



Em doses pequenas, tentando não perceber, vai se afastando uma dor aqui,

um ressentimento ali, uma revolta acolá.

Se o cinema está cheio a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço.

Se a praia está contaminada a gente só molha os pés e sua no resto do corpo.



Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana.

E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo

e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.



A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele.

Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se

da faca e da baioneta, para poupar o peito.

A gente se acostuma para poupar a vida que aos poucos se gasta e, que gasta,

de tanto acostumar, se perde de si mesma.

BIOGRAFIA



As escritoras Marina Colasanti e Miriam Sales na FLIMAR,em Maceió.


Marina Colasanti (Asmara (Etiópia), 1937) chegou ao Brasil em 1948, e sua família se radicou no Rio de Janeiro. Entre 1952 e 1956 estudou pintura com Catarina Baratelle; em 1958 já participava de vários salões de artes plásticas, como o III Salão de Arte Moderna. Nos anos seguintes, atuou como colaboradora de periódicos, apresentadora de televisão e roteirista. Em 1968, foi lançado seu primeiro livro, Eu Sozinha; de lá para cá, publicaria mais de 30 obras, entre literatura infantil e adulta. Seu primeiro livro de poesia, Cada Bicho seu Capricho, saiu em 1992. Em 1994 ganhou o Prêmio Jabuti de Poesia, por Rota de Colisão (1993), e o Prêmio Jabuti Infantil ou Juvenil, por Ana Z Aonde Vai Você?. Suas crônicas estão reunidas em vários livros, dentre os quais Eu Sei, mas não Devia (1992). Nelas, a autora reflete, a partir de fatos cotidianos, sobre a situação feminina, o amor, a arte, os problemas sociais brasileiros, sempre com aguçada sensibilidade.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

BASTARDOS INGLÒRIOS (Inglourious Basterds)




Esse excelente e polêmico filme está de volta nos canais a cabo.Assistam!

Cansados das atrocidades nazistas,um grupo de soldados voluntários se juntam sob o comando do tenente Aldo” Apache “Raine(papel do ator Brad Pitt),um matuto do Tenessee com um horrível sotaque caipira e com o nada saudável costume de escalpelar vítimas.O nada seleto grupo sai pela Europa em guerra com o propósito de causar o terror ao exército alemão.

Esses bastardos são uma criação típica de Tarantino,com nada sutis toques pessoais-um grupo de homens que se comunicam por meio de boas frases de efeito e se dedicam à mais extrema violência,sem remorsos ou dramas de consciência.

Cada ato do filme agrupa personagens num cenário limitado:tavernas,restaurantes,teatro.

As situações criadas são fantásticas,inusitadas,bem no estilo Tarantino.

Não é a toa que a platéia aplaudiu no final como se estivesse no teatro.O filme não tem nenhum compromisso com a realidade,por isso não pode ser classificado como um filme de guerra,embora a guerra seja o seu pano de fundo.

As cenas levam a platéia ao delírio; há muito que não vejo no cinema cenas tão inteligentes ,dissonantes e inquietantes como a música de Mahler.

Alás,a música é outro ponto forte do filme;vai da melodia dos westerns-spaghetti do Ennio Morricone capaz de insinuar a solidão e o perigo até os toques profundos melodia dos filmes de terror.

O elenco é fantástico:além do já citado Brad Pitt temos Eli Roth,como o temido “Urso Judeu”,Denis Menochet, como o fazendeiro que aparece no início do filme numa cena magistral com o ator Christoph Waltz,que faz o nazista Landa e quase que rouba o filme com sua performance monumental.

No lado feminino temos Diane Kruger e Mèlanie Laurent,no papel da judia Shoshanna,que escapou da morte,mas,é prisioneira do ódio contra os alemães.

O filme é imperdível para os amantes do bom cinema, mesmo aqueles de estômago delicado.

Não consegui que ninguém me explicasse porque os bastards do filme são escritos como basterds com- e-talvez tenha que perguntar ao próprio Quentin Tarantino,o cara que salvou o cinema americano da mediocridade atual.





quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Ô DE CASA! CADÊ O VENDEDOR DE LIVRO?




Antigamente , de preferência pela manhã,eles batiam nas portas.

Eram vendedores de livros , mas,eu os considerava vendedores de sonhos.

Vinham em hora matinal,não só para fugir do sol forte;mas,principalmente,para não perder o gás,pois,as reuniões com os supervisores eram cedinho e feitas especialmente para estimular e entusiasmar os vendedores para a dura missão que lhes esperava.

Bater de porta em porta para vender um produto que quase ninguém queria. Livros! Ora , livros , diziam as donas de casa.Se ainda fosse vassouras ou desinfetantes..-Mas,madame,de certa maneira eles são.Varrem preconceitos,juntam sabedoria e desinfetam as idéias,além de criar outras,é claro,às vezes ,perigosas.

Podem servir , também,como calço para móveis capengas e para enfeitar a estante.Pega bem,com as visitas!

O certo é que eles chegavam, de terno e gravata, todo pimpão,proseando,deitando sabedoria,oferecendo seu produto,com sua capa em brochura,a coleção de enciclopédia,o pai dos burros –excelente para as crianças na escola,madame! –livros de culinária, coleção de Jorge Amado, Monteiro Lobato e Érico Veríssimo,os favoritos,livros de arte,Historia,Atlas, a Bíblia Sagrada,colorida,em papel couché.

A família esperava o vendedor, sempre simpático,que havia marcado hora. –Venha à tardinha, cá estará o chefe da casa,sem ele não resolvo nada.

O chefe da casa, preocupado,a mulher quer o livro de cozinha,os garotos precisam da Enciclopédia (lembrem-se,São Google ainda estava no calcanhar da avó),ele mesmo,de um dicionário,não fosse passar vergonha diante dos filhos,como no conto do Artur Azevedo.Mas,quanto custaria tudo isso?

Essa farra literária, me levará quanto??

Ele chegava pontualmente às 17hs, carregado de pacotes e cartazes para apresentar as obras,tratava a todos pelo nome,como velhos amigos.

-Bom dia, dona Lolota,como vai essa força?E o seu Antonio,está bem?Sua mãe melhorou da coluna?

Olha quem chegou me fazendo festas!- Pára, Rex, espera ai que te faço festinhas.

Ah, uma limonada vem a calhar,mas,se depois tiver um cafezinho...

Gostou daquele livro de receitas?Isso, Helena Sangirardi é ótima,é o que mais vendo...

E,abrindo a sacola mágica:

-Veja esse, para a Carlotinha que vai casar.É um livro de conselhos,”Basta o Amor”? – ela vai gostar.

Sossegue, chefe,dividimos em 12 módicas prestações mensais.E,eu mesmo venho receber,não se aflija,marque o dia e pronto.

Bons tempos esses, em que as famílias eram estruturadas,os pais eram importantes referenciais,o saber era cultivado,ter um livro importante em casa era sinal de cultura e certeza de respeito pela comunidade,era norma ser educado,gentil,correto nos seus compromissos.

Tínhamos consciência que éramos felizes e gostávamos disso.

Agora, nesses tempos modernos,a família se desintegrou,a cultura transformou-se,a música virou agressão,o livro virou virtual,e-books,e-readers,pode-se ler 500.000 no kindle, numa leitura rápida,de consumo,leitura para citar e aparecer nas “rodinhas”,aquelas aonde se dá importância a isso.

A minha geração de sessentões nunca abandonará o livro.

Falando sério, um livro na mão,numa rede à tardinha,sabedoria pensada e sorvida como a água de coco ao lado,a beleza da capa,a leitura da orelha,o prefácio,percorrer os capítulos,sentir o cheiro do livro,novo ou velho...

Ai, que saudades do vendedor de livros!