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sábado, 24 de abril de 2010

DIÁRIO DE BORDO:CAP XVI



. Já ouvimos vozes italianas no rádio:alguém suplica,ansioso que um navio se identifique e dê sua posição;fala-se em Villareggio ou Carrara,enfim,o assunto não é conosco.Passamos por um morro redondo,não muito alto,com uma fortificação antiga,como um castelo;não consegui saber-lhe o nome.Há vários barcos ao redor do navio,pesqueiros,iates de luxo;um deles o UHSS300,provavelmente de suecos..passou a menos de 5 nós;Os tripulantes eram altos,louros e bonitos;eram dois,vestidos como yatchmen,usando casacos caros e coloridos.
Um oficial saudoso se informa em Gênova sobre o preço das ligações telefônicas; ele quer falar com os pais nas Filipinas;é salgado o preço da saudade:U.S.8 o minuto.O oficial desiste. Lembro que na época da minha viagem,quando este diário foi escrito o celular ainda não era um produto de consumo.
Os novos tripulantes já assumiram suas posições, são sérios e calados. O navio está naquela modorra que precede o assanhamento das chegadas; o Cap. ainda não apareceu e até o Cook-dog que cedo estava correndo nos meus pés querendo colo ,agora está cochilando perto da cadeira alta do comandante no deck aonde estive longo tempo sentada fugindo do frio,que lá fora fustiga nossas pernas.
Tomo um chocolate quente e espero a chegada á Gênova, não quero perder nada.
14.45hs
Estamos ancorados frente á Gênova, de molho; só poderemos descer daí a dois dias. Do mar percebo uma cidade antiga, cor de terra,edificada na falda de uma montanha,as casas subindo morro acima;parece uma cidade medieval,com edifícios de frontais lisos e numerosas janelas de cores frias ;o porto é grande.Vejo as cúpulas de muitas igrejas.
Há quase 500 anos o genovês Colombo saiu deste mesmo porto com suas três caravelas rumo ao desconhecido; graças a este gesto que mudou o curso da Historia e como conseqüência dele, eu estou aqui, frente à Gênova, uma brasileira do Terceiro Mundo rendendo-lhe as merecidas homenagens, já que lhe faltou as homenagens européias, pois morreu pobre e esquecido em Valladolid quando nem o seu nome pode dar ao Continente que descobriu; Ao florentino Américo Vespúcio. que sabia como é que a banda toca ,coube todas as honras;é como se diz,o bom bocado não é para quem faz é de quem o agarra.
Há pouco ,fomos almoçar uma refeição melhorada, por ser domingo: bolinhos de carne, um minúsculo peixe filipino bem torrado, parecendo nossa petitinga, servido com molho forte, de vinagre; vagens, tipo um feijão ,cozidas no dendê e um excelente pão espanhol; por fim,
o chá de mate. Assistimos á TV italiana; variedades,uma espécie de bolsa de empregos e um telemarketing,onde se compra e vende de tudo.Amanhã irei ao correio,postar cartas para o Brasil.Ah,se naqueles idos de 1994,a Internet já tivesse chegado aos navios!

NOITE
Continuamos de molho, em frente á cidade sem poder desembarcar; podemos ver as luzes e de binóculo até o movimento ininterrupto da noite genovesa; mas, oh!Paradoxo dos paradoxos!Em plena Italia comemos pizza congelada de Montevidéu, com queijo brasileiro e azeitonas espanholas. Para terminar cerveja alemã,coca cola e mousse francesa de morangos.Estamos devidamente globalizados.
O dia se arrastava;vimos TV,vídeo,conversamos e ainda são 22.30hs;e as luzes de Gênova brilhando indiferentes ao nosso sofrimento.Uma tentação!
Descasco uma maçã e vou dormir.
Uma linda lua cheia, provocativa, misteriosa, espia para mim pela escotilha da cabine, deixando rastos de prata no mar;... á sua luz as coisas mais vulgares têm um raio de tocante formosura.
Quero ser completamente iluminada,quero evitar os eclipses do caminho.

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