...mora na Filosofia
VALE A PENA CULTIVAR A ÉTICA
!
No meu tempo de menina, que já se perde na noite dos tempos, se eu
chegasse em casa com um lápis,uma borracha ou um cromo e dissesse a minha mãe
que ganhei de uma colega ela me faria
devolver no dia seguinte alegando que minha colega não trabalhava ,logo não
poderia presentear ninguém.
A mentira ,também,não era
permitida ,mesmo as “brancas” que não dão inferno ,como sair da escola com as
coleguinhas e ir para a praça passear e falar de namorados,coisas de
adolescente,e dizer á minha mãe que estava a terminar um trabalho na casa de
uma amiguinha.
Esta foi a minha formação
familiar e que passamos - minha mãe e
eu - para meus filhos.
Meu pai era obcecado pela
palavra dada e empenhada,pelas atitudes de retidão ,pela pontualidade,pela
ética , pela justiça,pela boa conduta,pelo caráter e pela verdade.Tudo isto era o leitmotiv da minha formação.
Também era proibido passar
notícias falsas,falar da vida alheia ou espalhar (ou repetir) boatos.
“Seja lá o que eles estão
fazendo não é da nossa conta.”Era o que eu ouvia.
Bom,deu muito certo.Ou
melhor,não sei;no nosso país ,hoje ,me sinto um dinossauro.
Até hoje sou pontual nos
meus compromissos e ,por isso,já paguei muito mico,como chegar ás oito para um
jantar ás oito ,com direito a RSV e tudo e ainda encontrar a anfitriã de bobs
nos cabelos e robe de chambre.Constrangidas ,ambas ,ela por estar errada e eu
por estar certa.Também telefono antes de fazer uma visita até para meus
filhos e detesto pessoas que chegam sem
avisar e vão entrando na casa toda sem convite.
Até hoje creio nos
fornecedores que prometem um serviço para tal dia,não terminam nem pedem
desculpas ou dão de ombros quando
reclamo.
-È assim mesmo,dona.É
Brasil!
Detesto quando um taxista
tenta me roubar aumentando o percurso ou dando voltas numa cidade que não conheço
bem;viro bicho e ele ouve o que quer e o que não quer,pois,corajosa sempre fui.
Odeio funcionários lenientes
que ficam no celular enquanto a gente espera que terminem seus assuntos e
pessoas que desmarcam compromissos assumidos sem explicação ou dispensando até
a ótima palavra ,desculpe.
Inúmeras vezes trabalhei com
febre ,interrompia a licença maternidade com menos de uma semana de parida e
trabalhei cinco anos numa empresa sem uma única falta no meu relatório.
Numa festa literária
trabalhei com meu marido ,em coma,na UTI e fui até homenageada por isso num
jornal da cidade.Eu havia recebido passagem e hospedagem grátis ,portanto,tinha
que cumprir o compromisso desse no que desse.
Nem vou falar da raiva que
sinto quando vejo governantes roubando descaradamente meu país e meu povo,
tirando a merenda das crianças pobres ,destruído nosso maior patrimônio que é a
educação ou levando os cidadãos que votaram neles á miséria total.
Não sei se concordo com
Platão (A República) quando ele diz que o homem que pratica o mal é o mais
infeliz e escravizado de todos,pois vive em conflito consigo mesmo ,paralisado
por medos,remorsos ,tendo uma existência deplorável,sempre em guerra com sua consciência.Meu
receio de não ser bem assim é porque desconfio que sujeitos assim não têm
consciência.E Kant dizia que o homem,pode sim,mentir para si mesmo e
desculpar-se por isso.
As pessoas honestas são
felizes porque podem dormir em paz;mas,os corruptos ,também,já que como psicopatas
morais que são,acham que a ética deve ser exigida de todos,menos dele,não
naquele momento.
Geralmente essas pessoas vêm
de lares cujos pais pensam como eles e foram essas lições que receberam.
O sujeito tem só dois
caminhos para preferir a ética: se é religioso e tem medo do inferno ou se sabe que será rigorosamente punido e sujeito a sanções penais ou ostracismo
social o que não é o caso do nosso país onde até a publicidade voltada ao
cidadão diz “que ele deve tirar em vantagem em tudo”.E ,esse tipo de esperteza é
louvado pela sociedade.
Assim,vivendo aqui e tendo
filhos,netos e bisneta , brasileiros .acredito que educação
é,sobretudo,preparar os filhos para a vida ,para o mundo em que vivem. E,agora
estou na dúvida.Deveria flexibilizar com eles?Ensinar a Lei de Gerson? Mas,a
ética ,a moral e a justiça,para mim são valores inegociáveis.Então,como fazer?
Não poderia ensiná-los a ser
bandidos,mas,deveria não exigir tanto o
dever de honrar a palavra,assumir compromissos,entregar o que prometeu,ser
fieis a seus princípios,devolver uma carteira encontrada ou um troco dado a
mais,não “subornar” guardas de trânsito,não poluir as praias,respeitar seu
próximo?
E,agora,José?
Sem discussão . Não
respeitaria a mim mesma e nem honraria a memória de meus pais se fizer
diferente.A minha esperança é que o Brasil mude.Que deixe de ser um antro de
bandidagem e corrupção,que tenha políticos honestos ,ministros
impolutos,governantes sérios..Então,esses valores inculcados na consciência dos
meus descendentes serão louvores,não fardos.
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